quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mãe de Mel

Imagem: Google

CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO LOPES


MÃE DE MEL, SEIOS DE NÉCTAR,
OLHOS DE SAL - O QUE SIMBOLIZA A VIDA,
A EMOÇÃO DE CONTEMPLAR
UM PEQUENO SER A NINAR,
A PEQUENA GRANDE PESSOA
QUE SEU ÚTERO TÃO BEM SOUBE ABRIGAR...
E A BOQUINHA QUE SE ENTREABRE,
BOTÃOZINHO A SUGAR!
E O SUSPIRO SATISFEITO,
IRROMPENDO A ENCANTAR!
E O CHEIRO DE LAVANDA,
E A RENDA NOS PUNHOS
DOS PEQUENOS PULSOS DE SEDA!
E O LENTO E TORNEADO ESPREGUIÇAR,
COM OS BRACINHOS MACIOS
A ESTICAREM QUAIS BROTOS
DE JOVENS REBENTOS,
A AVANÇAR
PELOS ESPAÇOS !
E O PESADO LEVE PESO, NOS TEUS BRAÇOS:!
MÃE DE MEL,FARTURA, TERNURA,
TU CARREGAS ALGUÉM
QUE ORA SENDO UM ENTE ASSIM PEQUENO,
ALGUÉM ADULTO UM DIA SERÁ
E DE TEUS CARINHOS
TERÁ SIDO FEITO
E INCONSCIENTEMENTE SABERÁ
DO FAVOS DE TEUS CUIDADOS.

O Visitador


Clevane Pessoa - Belo Horizonte - MG


Todas as noites
Passa um fita de luz
Pela fresta,
Atravessa a cortina
E me seduz
Fazendo uma festa
Para a menina
Que dormita
Dentro da mulher
Que acorda...
Com energias fluorescentes,
Florescentes,
Pega o açoite
Que o dia usou
Para castigar
Minha poesia
_ A companheira
etérea
da fantasia _
E o transforma
Em um fio de luar...


Apaixonada,
Embora,
Meu desejo constranjo
Em pleno deslumbramento
Quando re/descubro
Que esse espectro
É um anjo

Poesia destaque em concurso da
ALPAS XXI,de Cruz Alta,RS,depois
editada na coletânea
"Desafios"/2002,por Rozélia Rasia

Poesias

Texto: Clevane Pessoa
Ilustração: Iara Abreu

Portrait na luz


Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Frágil forte, sempre jovem, deu-me à luz ainda menina.

Parte-se o fio da vida, viro a criança a perseguir sua ponta,
na esperança de reenrolá-lo.

Corro ao sol, ofegante e desesperada...

Em dado momento, olho para trás e vejo sua imagem

serena e bela a dizer-me sem palavras

em comunicação inaudível e inesquecível,

que darei continuidade

à história das mulheres da família...

A força do amor

Imagem: Google

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Olhos de seda entrelaçando fios
nos olhos de minha alma rota
pelos desgastes dos sonhos
intangíveis e desfeitos:
tramas puídas sem possibilidades
aparentes de remendos ,
esgarçadas pela voracidade
de traças impiedosas...


Mas, fiandeiras de magias
as meninas de teus olhos
pacientemente são artesãs
da reesperança e recuperam
com luzes invisíveis
e canções inaudíveis,
minhas crenças no amanhã...

Função

Imagem: Google
Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Lençóis d’água
Subterrâneos frescores
A amenizar
Os fogachos da menopáusica
Mãe Terra...


Jasmins d’água
Em touceiras.
O olor pungente
Bordeja o rio
que borda a Terra...
De longe,querubins
Em miniatura
Adejando brancas asas...
De perto, parecem
Borboletas que não voam,
Presas ao verde...
De quando em vez,
Caem pétalas
Sem ruído perceptível
E cada qual beija a água
Respingando ternura
Flutuando, leves plumas,
Por certo merecem
Que meu olhar
De brasas acesas
Perscrute o ondulado
E fri caminho...
ATÉ ONDE IRÃO?Aonde
Deságua a água
Cantando,
Ao mar se entregando?
Ou...Fenecerãoantes
Que o Tempo as insulte
Roubando-lhes a beleza?...

Dos falsos amigos

Imagem: Google

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Belo Horizonte, 13 de julho de 2010.


Abraçam -nos
apertam nossas mãos,
fingem atingir as raias da compreensão,
dançam nos limites de nossos limitações.
Oferecem a mão.
Por trás, inventam , sonegam, estendem a perna
para um grande escorregão de quem estava
Desarmado ou disponível.
Esquecem tudo que já se lhes ofereceu.
Roubam sem pudor
e quando vamos procurar nosso prórpio naco,
Respondem que “o gato comeu”,
E se tentamos retornar a um lugar cedido,
Dizem:”Quem sai ao vento, perde o assento”.
E logo conosco, que acreditamos
Na verdade inconteste: “faz a força, a união” .
Afinal “uma andorinha só, não faz verão!”...
Afastam com mil estratagemas , quem os auxiliou
E colocam em nossa boca palavras não ditas,
Inventadas por eles, malditas...
E nos entristece ver pessoas queridas
Caírem na rede que usam para nos derrubar
-e às vezes, a esses amigos inconsistentes
preferem acreditar nas linhas dos novéis
Que em nossos antigos e fortes carretéis.
Fazem jogo duplo, são sonsos e traem amigos,
porque traição perpassa pela deslealdade
e os liames da afetividade, da entrega , na amizade,
têm a ver com confiança, afiliação, respeito.
Há os ingênios que se deixam enredar
com histórias, artifícios, estratégias :
sempre têm ciúme do Outro
e querem caminhar seus caminhos.
Esquecem que em uníssono
são mais ouvidas as vozes,
mas se fazem surdos e mudos no conjunto
enquanto registram idéias alheias.
Depois copiam os hinos e poemas, contos e causos,
crônicas e opúsculos
que e apresentam, assinando a autoria.
Voam condores e jogam-lhes pedras.
Voam beijaflores e esses invejosos
queimam os jardins para que não possam
polinizar nem encantar o mundo.
Voam borboletas e lhes arrancam as asas
para fazer bandejas meramente decorativas.
Se é preso em jaulas e masmorras de incompreensão
um coração poeta, vão até lá, prestar pseudo-auxílio,
oferecer soluções impossíveis de alcançar.
São capazes de ofertar empréstimos de préstimos
e sorrir quais aqueles que nos amam de verdade.
Viajam e surrupiam as possibilidades dos Outro
-que muitas vezes sequer as deseja:
sob a pele de cordeiros mansos a balir,
são predadores insensatos, inconsequentes ...
Consola-nos no entanto, saber que embaralhados
Nas próprias maldades e mentiras
Caem quais as pedras frouxas numa avalanche de inconsistências...
Enquanto nós, resilentes e em paz,
Seguimos a trilhar as trilhas,
embalados nos braços da Verdade
-dama que sempre reaparece, quando menos se espera...